quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O PASTOR PROFISSIONAL

O PASTOR PROFISSIONAL

Por Alfredo de Souza


Sempre que um pastor for indagado sobre a sua profissão, qual deve ser a resposta? Incomoda-me quando afirmam que são pastores, ou seja, que a profissão que exercem é a de pastor. Quando tenho oportunidade de conversar com esses colegas mais próximos, sugiro que respondam: autônomo em vez de pastor. É claro que muitos discordam.

Mas o tipo de resposta a ser dada não é o problema que quero levantar nessa postagem. O ponto está mais além e é muito mais complexo. Inicialmente quero iniciar definindo o que significa ser um pastor e o que significa ser um profissional.

Por pastor entendo um ministério, um serviço dedicado ao Reino, ou seja, alguém que exerce o dom do Espírito Santo no cuidado de um rebanho de acordo com as normas contidas nas Escrituras. É um trabalho que não visa a promoção pessoal e nem o lucro, embora dele retire o seu sustento. Trata-se de um ministro do Evangelho. Por profissional entendo alguém que luta por uma carreira bem sucedida que se estabelece pelo reconhecimento vindo de outras pessoas. Também é a busca do progresso técnico que exige resultados mensuráveis cujo corolário é a recompensa que surge por meio de altos salários e de uma boa aposentadoria.

Não há nenhum problema em ser um bom profissional na empresa ou na instituição pública. A questão é quando o ministério pastoral se profissionaliza. Isso, sim, traz prejuízos à Igreja e ao propósito de Deus quanto ao amparo e, até mesmo, a proteção do povo. Como já disse, o trabalho pastoral deve ser visto como um ministério. Trata-se de um servo que preside, de um pai que cuida, de um mestre que doutrina ou de um enfermeiro que trata. Resumindo, o pastor é aquele que dá a vida pelo rebanho e o vivifica pelo poder de Deus.

Já o pastor profissional é aquele que não se dedica mais ao propósito principal no qual fora vocacionado. Ele passa a não mais se importar com a simplicidade do ministério. Sente necessidade de se perceber confortável e seguro de si e por si mesmo, não importando os prejuízos que isso possa causar à igreja. Busca um futuro previsível e um presente que satisfaça os desejos egoístas. A visão que possui passa a ser regida pelo humanismo e sente a necessidade de ser notado por aqueles que deslumbram o seu aparente sucesso. Ou seja, são pastores que pastoreiam a si mesmo, todo o seu esforço é direcionado aos interesses pessoais.

Não tenho dúvidas que tudo isso causa dor e frustração no meio do rebanho que definha moribundo e desorientado, principalmente quando percebe que o alvo de seu líder espiritual não é mais as ovelhas, mas, sim, o próprio estômago enquanto fingem pastorear.

Nessa altura surge uma pergunta: como podemos detectar alguém que deixou de ser um ministro do Evangelho e passou a ser um executivo eclesiástico? Como resposta, quero propor quatro características que são facilmente percebidas nesse tipo de gente:

O pastor profissional é raso no ensino bíblico. Este é um ponto extremamente nocivo à igreja com conseqüências desastrosas. O pastor profissional não possui a menor preocupação em se debruçar sobre livros, comentários ou literatura que possam auxiliar no preparo dos sermões. Não há estudo sério da Palavra, não há compromisso com a Verdade. Tais indivíduos acreditam que podem ir ao púlpito toda a semana e falar o que lhe vem na mente naquele momento, sem se preocuparem com o fortalecimento do rebanho contra o pecado. A tônica é sempre humanista e tolerante sem que haja a denúncia contra o erro ou contra o mundanismo. Isso porque o pastor profissional teme ser confrontado e, por essa razão, sempre quer estar de bem com todos, principalmente com os crentes influentes do meio.

O pastor profissional não se envolve pessoalmente com as ovelhas. Todos sabem que o pastoreio não se restringe aos principais cultos de domingo. Nenhum ministro de Deus se furta do envolvimento pessoal com o povo por meio do discipulado ou do aconselhamento. No entanto, o pastor profissional não leva em conta este importante cuidado individual. Não cultiva o hábito do pastoreio direto, do acompanhamento pessoal (por intermédio das visitas nas casas ou no trabalho em horário de folga), dos aconselhamentos, dos contatos por carta ou pela Internet (embora o relacionamento presencial seja insubstituível). Para ele tudo isso é perda de tempo. Por vezes a ovelha está necessitando de uma palavra orientadora, mas só consegue ser ouvida quando procura o psicanalista ou o líder de outra denominação mais próxima de si cuja teologia é, muitas vezes, questionável. São casais que vivem sob forte crise, relacionamentos desgastados entre filhos e pais, desempregos que desesperam o coração, enfermidades que atemorizam. São pessoas que gritam em silêncio sem, contudo, obter eco do seu clamor. O pastor que possuem só pode vê-las aos domingos na porta da igreja ao final do culto e que se limita em dizer a mesma frase por anos a fio: “como vai? Que tenhas uma semana abençoada”. Nada mais que isso. Essas pobres ovelhas nunca serão encorajadas a seguir em frente, nunca serão visitadas, nunca serão aconselhadas, nunca receberão uma mão amiga e confiável. Ou seja, nunca experimentarão o que é ser pastoreada, pois não possuem líderes amigos. Esses tais são apenas meros profissionais.

O pastor profissional só se preocupa consigo mesmo. Personalismo parece ser a palavra de ordem em alguns centros evangélicos. São pessoas que passam a vida lutando por um espaço na mídia. O resultado é o desperdício de milhões de reais utilizados para pagar campanhas inócuas ou programas televisivos vazios que nada dizem além de discursos de auto-ajuda. Mas esse desejo não se restringe aos grandes eventos ou aos grandes espaços continentais. Há também aqueles que desejam fama em seu pequeno universo. Pode ser um Presbitério, uma pequena região ou até mesmo uma igreja local. O alvo é a bajulação que surge por causa de uma pretensa espiritualidade ou de uma suposta inteligência respaldada por títulos e certificados alcançados. Não importa a causa, o importante é o estrelismo. É por isso que muitos pastores profissionais se preocupam com o crescimento numérico de seu rebanho em detrimento da qualidade, embora haja também os que se conformaram com o número reduzido do rebanho. Nesses casos, geralmente, a fama e o prestígio possuem outra fonte fora da igreja local. Outra preocupação desses pastores é a sua renda mensal, o seu ganho financeiro. Sempre defendem cinicamente seus bolsos sem, portanto, merecerem o que pleiteiam ganhar. Buscam apenas os seus direitos em detrimento dos legítimos direitos das ovelhas extorquidas. A meta é ter um emprego-igreja bem remunerado que lhe conceda estabilidade financeira.

O pastor profissional não é um homem de Deus. Isso significa a ausência de uma dependência total do Senhor na vida por meio do temor, da Palavra e da oração. São pessoas que confiam em si mesmas e não se importam em buscar de Deus a direção certa. Não sentem falta nenhuma de expressar a submissão ao Espírito, submissão esta que o próprio Jesus demonstrou quando esteve aqui entre nós. Não são homens de oração, não são homens da Palavra, não são homens piedosos. Nunca possuem uma vida devocional particular, nunca gemem por causa do pecado, nunca se importam com a vontade de Deus. Sempre agem friamente e com extrema impassibilidade diante de tudo que promove uma vida espiritual compromissada. Na maioria das vezes são irônicos ou cínicos no que dizem ou falam com respeito à piedade. Eles também agem despoticamente para que prevaleça a sua vontade, não obstante a capa de aparente mansidão. São vazios do poder de Deus, são como penhas que não podem alimentar ou fortalecer as ovelhas.

Quero encerrar dizendo que, para mim, ser pastor profissional nada tem a ver com tempo integral ou parcial no ministério. O ministro pode retirar o seu sustento de um trabalho que não esteja ligado à sua igreja. Todavia, tal trabalho não pode comprometer o tempo de qualidade pertencente ao rebanho quanto ao preparo do sermão e quanto ao envolvimento pessoal. Entre um e outro, o pastorado é prioridade. Se um dos dois deve ser descartado ou penalizado, que seja o trabalho secular.

Muitas igrejas padecem miséria espiritual porque estão debaixo de um pastor profissional que há muito deixou de ser um ministro de Deus. Vale ressaltar que essa mutação pecaminosa não acontece da noite para o dia, ela ocorre ao decorrer dos anos quando aquilo que causava genuíno espanto, preocupação ou interesse transforma-se em total irrelevância. O que era importante por pertencer ao Reino, passa a ser desprezado totalmente.

Que Deus nos livre dos pastores profissionais que sufocam as igrejas até o seu extermínio. Que haja entre nós ministros sinceros e cônscios de que escolheram um excelente, sublime e perene trabalho conforme nos diz o Apóstolo Paulo.

Fonte:Alfredo de Souza

A ÁRVORE DA HIPOCRISIA - A propaganda enganosa da Igreja de Hoje


Um pouco de luz contextual. Existe uma época certa para a frutificação dos figos na região de Jerusalém. Os figos pequenos, que crescem dos brotos dos figos da última safra, começam a aparecer no final de março e podiam ser colhidos em maio ou junho. os figos grandes são colhidos no final de agosto até outubro.
quando os figos pequenos surgem, eles surgem junto com as folhas. logo, se há folhas...há figos.

Jesus saiu muito cedo, com os primeiros raios do sol, que salpicavam com tons laranjas o céu azul escuro. Ele havia pernoitado na casa de seus amigos em Betânia,(Lázaro,Marta e Maria) e deve ter saído sem tomar o “café da manhã”. Durante sua cansativa caminhada para Jerusalém, sentiu fome, quando viu, à beira da trilha tortuosa, uma figueira copada, indício certo de frutos suculentos, cheios de sumo doce e delicioso.

Quão profundamente humano é esse nosso Jesus, e quão semelhante a nós, às vezes chega a sentir o estômago roncar de tanta fome!
... “E, não tendo achado senão folhas...”. O raciocínio natural de Jesus era: se há folhas... há figos.
A oferta de folhagem era a promessa da certeza de haver fruto.

Mas era propaganda enganosa, só camuflagem! Qualquer semelhança com a espiritualidade rasa de muitos de nós e de muitas igrejas de hoje, não é mera coincidência.

Aquela era uma estação em Israel em que todas as demais figueiras de Israel estavam peladas de folhas. Só aquela “enxerida” estava esnobando uma linda copa de folhas! E como Jesus não suporta venda de imagem, a fez secar completamente para nos ensinar grandes lições.

Essa árvore é mais que uma simples figueira à beira do caminho; ela é um símbolo e uma metáfora grandiosa sobre nossas vidas reais. Essa árvore gabola é um símbolo vivo do pecado dos nossos primeiros pais e metáfora eloquente da religião hipócrita dos rituais mecânicos no templo suntuoso, com seus cultos requintados de folhagens brilhantes, mas totalmente desprovidos dos frutos que Deus mais se agrada: a sinceridade e a verdade no íntimo.

Lembram que Adão, depois que desobedeu a ordem de Deus, ele e sua mulher, logo se viram envergonhados e acapachados pela culpa, e cheios de constrangimento tentaram cobrir sua nudez? Pois bem, sua empresa imediata foi fabricar uma tosca tanga de folhas de figueira, para tentar cobrir a nudez. Mas não adiantou nada. Então Deus toma a iniciativa e derrama sangue pela primeira vez, matando um animal inocente, e Ele mesmo, tece uma vestimenta de pele de animal, nova e adequada para o casal confuso. E é assim que aconteceu quando Jesus derramou seu sangue na cruz do Calvário. Nós, pecadores, tentamos inutilmente tecer vestimentas de folhas de figueira para disfarçar a podridão do nosso coração enganoso, nossas obras de fachada, nossa religiosidade legalista, nossa mania de fazer falsa propaganda do que jamais fomos.

Essas roupas nada mais são do que tentativas camufladas para mostrar que somos eficientes,que somos bonzões, inerrantes, que nossas obras, ações e religiosidade podem ser vistas e reconhecidas por Deus, e elogiadas pelos homens. De fato é comum tentarmos barganhar com Deus, mostrando currículo, que somos bons de oração, de jejum, de evangelizar, de pregar, de ter discípulos, de saber mais doutrina, de ser mais separado do mundo, de sermos mais santos que os demais, mas só Deus sabe da armação, da farsa engendrada por detrás de nossas motivações repugnantes.

Então o primeiro passo é rasgar essas folhagens, esses trapos, e nos mostrar nus, desprovidos, e humilhados na presença daquele que sonda os corações e conhece as intenções e os propositos mais profundos do nosso coração. Ele faz hilasterion, propiciação, uma cobertura realmente adequada para cobrir os nossos pecados e vestir nossa vergonha. E Isso vem via humilhação, confissão sincera e aberta, e através de arrependimento genuíno. O que passar disso é anomalia, é aberração e camuflagem ridícula de folhas de falsidade e impostura.

Mas aí Ele vem em nossa direção cheio de graciosa compaixão e perdoa os pecados, e nos purifica de toda injustiça. E a partir da nossa nudez e transparência, quando formos simplesmente figueiras peladas, despretenciosos, sem forçação de barra, vamos esperar naturalmente a estação certa para começar a frutificar, então vamos ser transformados em árvores frutíferas, cujas raízes tocam as correntes de águas, e adquiriremos uma folhagem que nunca murchará e sempre dará frutos vistosos e saborosos.

Mas se não assumirmos essa atitude de compromisso radical com a verdade, individualmente e como igreja, e continuarmos a apresentar cultos pretenciosos, com nossa venda de imagem, com nossa falsa propaganda, seremos passivos de Sua reprimenda, e consequentemente, nos tornamos árvores secas até a raiz, e como diz Judas, seremos árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas , desarraigadas, e seremos tão somente estéreis, infecundas, e improdutivas como sempre fomos mesmo antes, quando apresentávamos uma basta e copada folhagem de belas folhas.

Folhagens de hipocrisia e de mentira.

Fonte: Manoel dC Via: IGREJA BATISTA BERÉIA