(Estudo ministrado na reunião de obreiros na Assembléia de Deus em Sorocaba/SP em 7/12/2002, no período da tarde, antes da separação de diáconos e presbíteros naquela oportunidade pelo pastor-presidente daquela igreja, Osmar José da Silva). Caramuru Afonso Francisco
Texto bíblico básico - I Tm.3:1-16
INTRODUÇÃO
Quando se fala em diácono e presbítero, na atualidade, em nossas igrejas, logo se tem a idéia de que estas pessoas são denominadas, pelos teólogos e especialistas em eclesiologia, de "oficiais da igreja", expressão que indica que se tratam de funções de importância menor na casa de Deus, de ofícios subalternos, de auxiliares para os "ministros", estes, sim, dotados de encargos superiores, dos chamados "dons ministeriais" mencionados por Paulo na sua epístola aos Efésios, no capítulo 4.
Entretanto, quando vamos pesquisar na Bíblia Sagrada a respeito, não vemos este mesmo ponto-de-vista que, é forçoso admitir, decorre mais da tradição e da história da Igreja do que, propriamente, de uma disposição da Palavra de Deus.
Com efeito, a colocação dos diáconos e dos presbíteros como meros auxiliares de pastores, evangelistas e bispos é resultado de uma hierarquização no governo eclesiástico, fruto tanto do crescimento vertiginoso do Cristianismo a partir dos tempos apostólicos, como da própria mistura entre Igreja e Estado, o que se intensificou com a suposta conversão do imperador Constantino e a liberdade de culto aos cristãos pelo Édito de Milão em 312 d.C.
Estes dois fatores fizeram com que a Igreja tivesse de se organizar administrativamente, o que fez com que surgisse, mesmo ao largo dos preceitos bíblicos e neotestamentários, uma certa hierarquização, uma hierarquia que deu ao exercício do ministério e da presidência sobre o rebanho de Deus um caráter de carreira administrativa, a exemplo do que ocorria seja na administração pública, seja no próprio Exército romanos.
Assim, pouco a pouco, deturpou-se a estrutura mais ou menos espontânea existente nos tempos neotestamentários, em que os apóstolos constituíam pessoas para presidir e ensinar a Palavra às igrejas locais por eles instituídas, denominadas de bispos, presbíteros ou anciãos (termos que são equivalentes no Novo Testamento), como também pessoas destinadas a se ocupar de tarefas outras, notadamente de assistência social, que não o ensino da Palavra e a oração, denominadas de diáconos, para uma estrutura hierárquica, para um verdadeira carreira eclesiástica, que, a partir do diaconato, chegasse até ao episcopado, passando-se pelo presbitério.
É esta a estrutura vigente em todos os segmentos do Cristianismo, havendo, apenas, alguma variação de nomenclatura, variação esta, entretanto, que não retira esta idéia de carreira, que, entretanto, deve ser completamente banida da mente e da prática das igrejas que queiram adotar a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática.
Entendemos, pois, que a primeira coisa que deve ser incutida na mente daquele que for separado para o exercício do diaconato ou do presbitério é a convicção de que não está sendo inserido numa carreira eclesiástica, de que não pode assumir a responsabilidade do diaconato pensando em ser "promovido" para o presbitério ou, então, assumir a responsabilidade de um presbitério pensando em ser "promovido" para o pastorado, pois nosso compromisso é somente com a Palavra do Senhor e o próprio Deus vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12), de modo que não podemos, de forma alguma, ao sermos chamados para exercer funções de proeminência na obra do Senhor, na Sua Igreja, iniciarmos nossas tarefas diante de perspectivas puramente humanas e com as quais Deus não tem qualquer compromisso.
Pois bem, situada a questão fora da perspectiva humana de uma carreira eclesiástica, passemos para a discussão do texto bíblico mais amplo que se tem sobre o tema, escrito pelo apóstolo Paulo a seu filho na fé, Timóteo, como verdadeiro manual de instruções para que o jovem ministro pudesse, convenientemente, escolher para as igrejas locais sob sua responsabilidade, diáconos e presbíteros.
I. OS PRESSUPOSTOS PARA O DIACONATO E PARA O PRESBITÉRIO
Vemos, desde logo, que a preocupação do apóstolo Paulo era a de trazer os elementos, os requisitos que ele mesmo observava para a escolha de presbíteros e diáconos, pois, como bem ministro do Senhor, o apóstolo não visava a construção de um império eclesiástico, de um ministério ou de uma denominação poderosa, mas, muito pelo contrário, tinha somente em mira a salvação das almas, contentando-se em ver as almas salvas e, então, após formada a igreja local, escolher, dentre certos requisitos, homens que pudessem governar o rebanho de Deus(cf.At.14:23).
Hodiernamente, entretanto, há pessoas que não têm este mesmo objetivo. Grandemente abençoadas pelo Senhor, chamadas por Ele para a exímia tarefa de desbravar regiões e ganhar almas para o reino dos céus, vencida esta etapa, tratam, imediatamente, de construir organizações e verdadeiros impérios eclesiásticos, de forma a impedir que o governo do rebanho de Deus saia de suas mãos. As conseqüências têm sido trágicas, pois, a história tem demonstrado, a organização tem prejudicado grandemente o organismo vivo que é a Igreja e, como a obra de Deus não pode parar, das duas uma: ou a organização acaba sendo atropelada pelo organismo e se dilacera, não sem deixar profundas marcas materiais e espirituais ou a organização acaba matando o organismo, transformando-se em mais uma "igreja de Sardo", aquela que tem nome de que vive, mas que, há muito, já morreu espiritualmente (cf.Ap.3:1). Que Deus nos dê aos líderes do século XXI, aos apóstolos e desbravadores do Evangelho o mesmo sentimento de desprendimento e a mesma aversão ao domínio e ao poder que havia nos apóstolos !
Paulo, em primeiro lugar, afirma a Timóteo que o desejo de um crente em ser ministro ou oficial da igreja é um desejo excelente, é algo que não constitui, por si só, em atitude desprezível ou em pecado. Querer ser pastor, evangelista, presbítero, diácono ou cooperador é um desejo que tem a aprovação de Deus, não é ambição nem cobiça que pudesse ser considerada um mal, um pecado, uma violação de um mandamento divino.
Sentir o desejo de ter uma função de proeminência na Igreja do Senhor não deve ser algo que seja confundido como um interesse mesquinho ou como uma sede de poder. Não ! O apóstolo insiste que este desejo jamais pode ser abominado pelo Senhor, porquanto Ele é fiel, assim como a Sua Palavra e o próprio Jesus dissera, quando ainda entre nós, que era mister que houvesse pessoas dispostas a fazer a obra do Senhor e que isto deveria estar incluído nos nossos pedidos a Deus (Mt.9:37,38), de forma que não poderia Deus recriminar qualquer desejo de trabalhar na Sua obra.
Entretanto, embora seja algo excelente este desejo de servir ao Senhor no ministério, não é ele algo suficiente para que se tenha a investidura em alguma função ministerial.
O desejo do servo do Senhor para ingressar nas fileiras dos obreiros é algo excelente, é algo que revela uma profundidade no sentimento de dever e de comprometimento com Jesus, mas, di-lo Paulo com todas as letras, é algo absolutamente insuficiente para que alguém receba tal responsabilidade.
Lamentavelmente, um dos primeiros pontos que têm sido observados nos candidatos ao ministério, na atualidade, é a sua vontade, o seu desejo de se engajar nas fileiras ministeriais, sendo, mesmo, praxe em muitos lugares a busca, a procura daqueles que almejam angariar posições ministeriais, notadamente em campos, igrejas e denominações "concorrentes".
Sob a afirmação apostólica de que o desejo do episcopado é algo excelente, são tolerados, admitidos, incentivados e estimulados interesses mesquinhos, sentimentos cobiçosos e outros pensamentos que estão longe, muito longe de serem tidos pelo Senhor como "desejos excelentes".
Esquecem-se muitos de que o Senhor não pode ser enganado, conhece a profundeza dos corações(I Sm.16:7; Jo.2:24,25) e que tais atitudes jamais serão por Ele chanceladas, mas, antes, serão objeto da justa retribuição, pois o nosso Deus não Se deixa escarnecer (Gl.6:7).
O desejo do episcopado é o desejo de ser "episkopos", bispo, em grego, palavra que quer dizer "supervisor". Bispo é aquele que está supervisionando, ou seja, aquele que está velando, aquele que está cuidando, aquele que está tratando, que está observando o povo de Deus. O desejo do episcopado, portanto, é o contrário do desejo que muitos têm apresentado sob este título na casa de Deus: não é o desejo de ser servido, de mandar, de ordenar, mas, sim, o desejo de servir.
Quem deseja o episcopado, deseja servir a Deus servindo os crentes, ou seja, bem ao contrário do que se passa na mente de muitos que estão a desejar o ministério, Deus está à procura de pessoas que queiram servir os demais crentes, que queiram ser instrumentos de Deus para o cuidado, para o zelo, para o crescimento espiritual dos demais irmãos de fé.
A palavra "bispo" (que, aliás, está na moda no meio evangélico, sendo a nova "coqueluche" dos que querem demonstrar sua "autoridade eclesiástica") significa "supervisor", mas não no sentido daquele que vê do alto, que é objeto da adulação e da obediência dos que estão embaixo, mas, bem ao contrário, aquele que deve velar, cuidar, observar e tomar conta do que não é seu, mas, sim, do Senhor. Aquele que deve cuidar, como verdadeiro depositário fiel, de uma herança que não é sua, mas de Deus. Por isso, o apóstolo Pedro foi bem claro ao afirmar, em sua epístola, que o sentimento de domínio deveria estar bem distante do coração dos presbíteros (I Pe.5:3).
A palavra "presbítero" também é grega e significa "o mais velho", o que demonstra a sua equivalência com a expressão "ancião". Os presbíteros, portanto, também não são "mandões" ou "chefes", mas pessoas que devem ser respeitados pelo seu exemplo, exemplo este que deve ser a base de sua autoridade e não o desejo de domínio, como explicita Pedro no texto já mencionado.
A palavra "diácono", outra palavra grega, quer dizer "servidor", ou seja, aquele que serve, mesmo sentido que tem a palavra "ministro".
Ora, se assim é, vemos que até nas suas denominações, as funções ministeriais não deixam qualquer dúvida: existem para que seus titulares sirvam ao povo e não sejam por ele servidos.
O desejo do episcopado é o desejo de servir. É este o desejo excelente mencionado pelo apóstolo Paulo. É este o desejo que merece ser levado em conta, ainda que, repitamos, ainda que o crente tenha este desejo, é ele absolutamente insuficiente para determinar uma separação.
Assim, o primeiro discrímen que deve ser efetuado no instante da escolha de diáconos e de presbíteros, é a existência de um real desejo do episcopado, isto é, de um desejo de servir a Igreja de Deus e não de ser por ela servido.
Mesmo assim, este desejo não é bastante para que alguém seja separado ao diaconato ou ao presbitério.
Existente o desejo do episcopado e consciente o candidato de que a função ministerial não é uma carreira administrativa eclesiástica, a partir daí é que se iniciará a verificação dos requisitos para que alguém seja separado ao diaconato e ao presbitério, num rigor bíblico que, lamentavelmente, repita-se, diante da perspectiva carreirista dominante e da falta de discernimento do "desejo do episcopado" tem gerado as grandes mazelas que vemos no corpo ministerial das igrejas locais na atualidade.
Por que o desejo do episcopado genuíno não é suficiente para a separação de um diácono e de um presbítero ?
Porque assim a Palavra de Deus o determina, quando vemos que, após a detecção do desejo do episcopado, diz o apóstolo que devem ser preenchidos alguns requisitos, requisitos estes que, se estão na Bíblia Sagrada, não podem ser considerados como elementos válidos apenas para aqueles tempos apostólicos, mas, sim, como requisitos que devem ser observados a todo tempo e a todo instante, pois, além de serem requisitos relativos ao próprio caráter do candidato e, como tal, atemporais, decorrem do ensinamento de alguém que executava fielmente a obra do Senhor, que tinha o Espírito de Deus e que teve confirmada pelo Espírito a sua maneira de agir, como podemos ver pelo vigoroso progresso que viveram as igrejas locais por ele estabelecidas em seu grandioso ministério missionário.
II. OS REQUISITOS PARA O DIACONATO E O PRESBITÉRIO
II.1 - Irrepreensibilidade
O primeiro requisito e, no nosso modesto modo de ver, o mais importante, tanto para o presbitério quanto para o diaconato, é a IRREPREENSIBILIDADE.
Diz o apóstolo Paulo que o bispo deve ser irrepreensível (I Tm.3:2), bem assim que os diáconos sirvam se forem irrepreensíveis (I Tm.3:10), denotando, assim, explicitamente, para ambas as funções e de forma prioritária, que a irrepreensibilidade deve ser uma característica indispensável para que alguém seja diácono ou presbítero.
É por isso que se disse que o desejo do episcopado, ainda que seja o genuíno desejo de servir, não é condição suficiente para que alguém possa ser guindado a esta posição.
Exige o apóstolo que o candidato seja irrepreensível, ou seja, que não possa ser repreendido.
Ser irrepreensível é não ser capaz de ser repreendido e isto é uma característica que só tem quem está em comunhão estreita e íntima com nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Não poder ser repreendido é não poder ser objetado por quem quer que seja, crente ou ímpio, por conta dos atos que têm praticado. É ter uma vida cujas ações e atitudes denotam um caráter de santidade e de obediência à Palavra de Deus que não permita qualquer oposição, a não ser a natural oposição do adversário de nossas almas.
Por isso é que o próprio Paulo, após anunciar as qualidades do verdadeiro crente, qualidades estas que constituem o caráter cristão, conhecido pela expressão "fruto do Espírito", afirma, com a experiência de quem já fora perseguidor implacável dos cristãos, que "contra estas coisas não há lei "(Gl.5:23).
Um crente irrepreensível é aquele cujas obras não são capazes de ter a oposição sensata e fundamentada de quem quer que seja. É alguém que pode até sofrer duras conseqüências pelos seus atos, mas cujo sofrimento será tão somente o resultado de uma vida de fidelidade a Deus.
Neste sentido, aliás, foi a expressão de Pedro, segundo a qual, o crente não pode sofrer senão por ser um cristão, o que faz com que o sofrimento seja injusto (I Pe.2:19) e motivo de glorificação diante de Deus (I Pe.4:16).
O crente irrepreensível é aquele cujas obras fazem com que os homens glorifiquem a Deus (Mt.3:16), é aquele que faz com que os homens reconheçam Deus em sua vida (II Rs.4:9), é uma verdadeira luz do mundo, um verdadeiro sal da terra.
A Bíblia traz-nos muitos exemplos de pessoas que, embora compromissadas com Deus, não preencheram, em certos momentos de suas vidas, este requisito e, portanto, não estariam aptas para, se vivessem no tempo da graça, serem diáconos ou presbíteros.
Abrão, por exemplo, ao se desviar da orientação e da direção divinas, mesmo estando em prosperidade material, acabou sendo alvo de dura repreensão de caráter moral por parte de Faraó, um politeísta e idólatra, repreensão contra a qual não pôde argumentar, pois estava completamente fora da vontade do Senhor (Gn.12:18-20), ou então, a repreensão e desmascaramento vivenciados pelo rei Davi por parte do profeta Natã (II Sm.12:7-12), repreensão contra a qual não pôde o rei usar da autoridade que possuía para fazer mal ao homem de Deus.
O presbítero e o diácono não podem, pois, ter uma conduta social que permita sejam repreendidos pelos homens, sejam eles crentes ou não. Devem ser homens que, no jargão popular, "estejam acima de qualquer suspeita".
Para o exercício de certas atividades na sociedade, exige-se que o candidato seja alguém idôneo, tenha credibilidade moral e reputação ilibada (como, v.g., exige a Constituição da República Federativa do Brasil para a escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal, em seu artigo 101). Se os homens, sendo maus e pecadores, exigem de que esteja na proeminência um porte diferenciado perante a sociedade, por que não teríamos o mesmo cuidado na escolha de diáconos e de presbíteros, que estarão em destaque no meio da "geração eleita, sacerdócio real e nação santa" ?
É fundamental, portanto, que os diáconos e presbíteros sejam pessoas irrepreensíveis, pessoas que não possam ser repreendidas pela sua conduta social, entendida esta não só dentro das quatro paredes do templo, mas, o que é fundamental, no dia-a-dia de sua vida neste mundo.
Somente pode ser separado como diácono ou presbítero alguém que tenha atendido à ordem do Senhor para Abraão em Gn.17:1: "anda em Minha presença e sê perfeito." Sabemos que a perfeição aqui não é a infalibilidade, algo que jamais será atingido pelo ser humano, mas a integridade, ou seja, a retidão, a correção de propósitos e de atitudes. Quem não atender a esta exigência divina de aperfeiçoamento na jornada de fé não está, ainda, em condições, de assumir o diaconato ou o presbitério.
II.2 - Marido de uma mulher
O segundo requisito trazido pelo apóstolo para que alguém possa ser guindado ao ministério é que seja marido de uma mulher (I Tm.3:2), exigência que, também, é repetida explicitamente quando se trata especificamente do diaconato (I Tm.3:12).
O texto tem causado grande polêmica no tocante à questão de se estar aqui proibindo que alguém divorciado seja separado para o ministério, diante do sentido original da expressão "uma mulher" que seria melhor traduzida para o português como "uma só mulher", já que se teria aqui um numeral e não um artigo, até porque, em grego, não há artigo indefinido.
Entretanto, não vamos adentrar neste assunto, que demandaria um estudo à parte, até porque entendemos que o requisito apresentado é de uma maior profundidade do que a questão de se saber se o candidato a diácono ou a presbítero já convolou núpcias anteriormente.
O que se está a exigir aqui é que o candidato ao ministério tenha um bom porte familiar, ou seja, que seja reconhecidamente um "pai de família", um "chefe de família", ou, para se utilizar de uma típica expressão popular que já está fora de moda, "gente de família".
Quando estamos analisando os pretendentes a namoro de nossos filhos, sempre procuramos observar se o(a) pretendente é "gente de família", ou seja, se tem uma vida familiar, se tem um relacionamento estável e definido com seus pais e seus irmãos.
Ora, é exatamente isto que o apóstolo está indicando neste ponto, ao exigir que o candidato ao ministério seja "marido de uma mulher", algo que, posteriormente, na mesma passagem, é explicitado, ao se dizer que quem não governa bem a sua casa, não poderá jamais governar a casa de Deus (I Tm.3:4,5).
Para que alguém possa exercer o ministério, é imperioso que tenha um porte familiar exemplar, que seja "gente de família", que possa ser reconhecido como "marido de uma mulher".
Para se ser "marido de uma mulher", é preciso ser alguém que seja amoroso, tenha uma afetividade evidenciada e genuína, pois, caso contrário, sempre estará só na sociedade, pois sua mulher não quererá acompanhá-lo.
Com efeito, sabemos que a mulher é um ser guiado pelo sentimento e pela intuição, de modo que o candidato ao ministério deve ser uma pessoa que tenha cativado sua mulher, e, para cativar uma mulher, é indispensável que se demonstre amor e afeto, capazes de criar um cumplicidade que faça com que a mulher tenha prazer em fazer companhia ao seu marido.
Ser "marido de uma mulher" é demonstrar a todos que se é amoroso, sensível e afetuoso.
Não é por outro motivo que a recomendação bíblica aos maridos, quando são explicitados os deveres domésticos, é de que o marido ame a sua mulher (Ef.5:25). Se o marido não amar sua mulher, não a poderá cativar, não constituirá com ela a unidade que caracteriza o casamento (Gn.2:24; Mt.19:6).
Como alguém pode ser ministro na casa de Deus se não ama a sua própria mulher ? Como diz o apóstolo João, se não se ama a quem se vê, como se poderá dizer que se ama a Deus (I Jo.4:20) ? E, se não ama a Deus, como poderá amar a Igreja do Senhor ?
O amor que a Palavra de Deus exige do marido, ademais, não é qualquer amor, mas um amor intenso e que seja de renúncia. Com efeito, o marido deve amar sua mulher como Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela (cf. Ef.5:25).
O candidato a ministro deve amar sua mulher e estar pronto a se entregar por ela. Reside aqui, aliás, um dos grandes equívocos que têm sido cometidos pelos obreiros nos nossos dias, a saber, o de menosprezo da família em favor da obra de Deus.
Para que se separe alguém ao diaconato ou ao presbitério, é preciso verificar se ele é "marido de uma mulher" e, como "marido de uma mulher", o candidato ao ministro deve estar disposto a morrer pela sua mulher, pela sua família e não pela obra do Senhor.
Não pode ser obreiro quem não está disposto a se sacrificar pela sua família.
Recentemente, aliás, ouvi de um pastor, com lágrimas em seus olhos, a constatação de que, num velório de um grande homem de Deus, teve o responsável pelo culto fúnebre de até se virar e esconder seu rosto da família daquele servo de Deus, porque, embora tivesse dito, em suas palavras tocantes, que se estava ali diante de um grande batalhador do Evangelho, não poderia ser dito que ali estava um grande pai e um grande marido, porquanto este ministro havia abandonado sua família em prol da "obra do Mestre", e, como resultado disto, ali estavam todos os seus filhos desviados e fora da igreja.
É uma triste constatação a de que há uma grande parcela de filhos de obreiros no mundo, precisamente porque, ao serem separados estes obreiros, não se verificou se eram eles "maridos de uma mulher", se eles governavam bem as suas casas.
Nos dias em que vivemos, em que o alvo principal do adversário tem sido contra a família, é absolutamente indispensável que somente separemos para o ministério pessoas que sejam "maridos de uma mulher", que sejam verdadeiros amantes de suas famílias, que estejam dispostos a morrer pela salvação de suas famílias.
Não permitamos que os obreiros desprezem, deixem em segundo plano as suas famílias, pois a igreja nada lucrará com isto, mas, muito pelo contrário, perderá, totalmente, a sua credibilidade e se abrirá uma cunha na qual o adversário, com certeza, trará enormes prejuízos e um rastro de morte e de destruição que, muito provavelmente, não poderá ser totalmente desfeito.
O obreiro deve ser o primeiro a zelar pela sua própria casa, deve ser o primeiro a instituir o culto doméstico e a gerar, em seus filhos, o prazer no serviço a Deus, a conseguir a cumplicidade e o apoio de sua mulher no exercício de suas funções na casa do Senhor.
O obreiro deve ter uma vida familiar própria e peculiar, que não se misture com a casa de Deus, pois o texto bíblico é claro ao apresentar estes dois ambientes como ambientes paralelos, que não se misturam, mas que trazem, reciprocamente, vigor e autoridade ao ministro.
Cabe, aqui, aliás, uma última observação, relativa à expressão do apóstolo, segundo a qual deve o obreiro ter "seus filhos em sujeição"(I Tm.3:4).
Aqui, o original "filhos" diz respeito a filhos em tenra idade, ou seja, crianças que não têm ainda o discernimento nem a capacidade de escolher. Assim, não pode o obreiro ser penalizado porque um filho, já atingida esta capacidade de discernimento, escolha o caminho da perdição, pois isto é resultado do livre-arbítrio de cada um e não pode o pai responder pelos pecados de seus filhos (cf. Ez.18:20).
II.3 - Sóbrio
A sobriedade é a característica seguinte mencionada pelo apóstolo Paulo, devendo, aqui, ser considerada aquele estado segundo o qual a pessoa não se encontra enebriada, embiragada, ou seja, encontra-se dentro de um perfeito reconhecimento da realidade que a cerca.
A sobriedade é, precisamente, a noção de onde se está, do que se é, do que se pode, ou não, fazer.
Ser sóbrio é, sobretudo, não se deixar levar pela sensação do poder.
É dito que "o poder corrompe" e que o "poder absoluto corrompe absolutamente" e temos, sim, de concordar com estas máximas, porquanto a sensação de poder tem levado muitos a se desvirtuar do caminho da obediência e da submissão a Deus, a começar pelo próprio inimigo de nossas almas.
O obreiro deve ser alguém que seja sóbrio, ou seja, que saiba, exatamente, apesar da posição de eminência que venha a ocupar diante do povo de Deus, não se deixar enebriar pelo novo "status" e manter-se no seu devido lugar, sabendo que é, antes de tudo, um servidor do povo, que está para servir o rebanho do Senhor e não para ser servido.
Ser sóbrio é não se deixar enebriar pelo poder, é não ceder à tentação de ter domínio sobre o povo de Deus (I Pe.5:3), é compreender que somente seremos alguém relevante e proeminente na casa do Senhor se agirmos como o homem que o próprio Jesus disse que foi o maior profeta dentre os nascidos de mulher, João Batista(Lc.7:28). A qualidade que fez com que o Senhor considerasse João Batista o maior de todos os seres humanos pecadores foi somente uma: a humildade, pois, em pleno vigor de seu ministério, João soube, exatamente, qual era o seu lugar, ao afirmar que deveria diminuir para que Cristo crescesse (cf. Jo.3:30).
Entre nós, brasileiros, há uma tradição cultural de dar muito crédito aos títulos e aos cargos. Dentro de uma visão patrimonialista que nos herdou a própria cultura lusitana (que o diga o grande jurista Raymundo Faoro, em sua magistral obra, 'Os donos do poder'), temos a tendência de conferir posição e respeito a quem ostente um determinado título, de forma que a ostentação de um título chega a ser primordial no próprio estabelecimento de relações sociais.
Em razão disso, há uma verdadeira busca de títulos no meio da igreja, como se o Senhor necessitasse de credenciais ou de quaisquer documentos para que alguém exerça um determinado dom ministerial no meio do povo de Deus.
Esta característica de nossa cultura tem sido ardilosamente utilizada pelo inimigo de nossas almas para levar ao fracasso muitos dos sevos do Senhor, que, além de correrem atrás dos títulos, o que, não raro, corrida que faz com que percam a direção do Senhor para seus ministérios, o que lhes é fatal, gera um subproduto não menos perigoso: a embriaguez pelo poder.
Diante deste quadro, portanto, é mister que vislumbremos se os candidatos ao ministério são sóbrios, se o poder não lhes sobe, facilmente, à cabeça.
II.4 - Vigilante
O obreiro deve, como crente que é, ser uma pessoa vigilante.
Estamos no mundo, mundo este em que estamos convivendo, diariamente, com o mal, mal este que quer, simplesmente, destruir-nos, pois o curso do mundo segue o que foi imposto pelo "deus deste século", pelo "príncipe das trevas"(Ef.2:2,3), cujo trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
Não podemos nos iludir com quaisquer propostas ou considerações de origem satânica segundo as quais é possível estabelecer-se uma trégua com o pecado e com o mundo, que jaz no maligno, pois o diabo não cessa de buscar uma ocasião para tragar a tantos quanto possa.
Não é por outro motivo que Jesus disse que estaríamos como ovelhas no meio de lobos (Lc.10:3) e de ter mostrado ser necessária e indispensável a Sua intercessão para que sejamos livres do mal (Jo.17:15).
O crente deve ser vigilante, estar sempre atento a todos os movimentos que estão à sua volta, a fim de que não seja apanhado de surpresa pelo adversário, devendo, pois, de modo geral, estar vigiando, que é o que o Senhor recomenda expressamente a toda a Igreja (cf. Mc.13:37).
Pois bem, se para o crente a vigilância já é um imperativo, que dirá para o obreiro, que se encontra em posição de eminência e com maiores responsabilidades na Igreja, pois, como afirma a Palavra do Senhor, "...a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá."(Lc.12:48).
Estando em posição de destaque diante do povo de Deus e da sociedade, o obreiro deve ter redobrada vigilância, buscando viver aquilo que ensina e propala na pregação e ensino da Palavra do Senhor, sob pena de retirar toda a credibilidade de sua pregação.
O conhecido e exímio orador sacro em língua portuguesa, o padre Antonio Vieira, em um de seus mais famosos sermões, o Sermão da Sexagésima, onde discute porque a Palavra de Deus não estava frutificando conforme o Senhor prometera na parábola do semeador, chegou à conclusão de que o principal obstáculo para que houvesse muitas conversões era o próprio pregador, cuja vida, muitas vezes, desmentia cabalmente a pregação efetuada.
O obreiro precisa ser vigilante e estar bem atento a tudo que o cerca, para impedir que suas ações, palavras e obras venham a levar descrédito para o Evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Aliás, quem pode objetar que o maior obstáculo para a conversão de almas, atualmente, não têm sido os escândalos causados por obreiros que não têm sido vigilantes ?
Neste tópico, ainda, devemos observar que o obreiro deve ser vigilante na transmissão da doutrina para o povo de Deus.
Como ministros do Senhor, temos a incumbência de transmitir a Palavra de Deus, de ensiná-la e devemos ser transmissores fiéis, meros condutores da Palavra que é de Deus e não nossa. Muitos não têm vigiado e, por causa disso, a doutrina não tem sido transmitida devida e corretamente para o povo.
Muitos não têm sido vigilantes e acabam transmitindo ao povo doutrinas de homens, pensamentos seus e até doutrinas de demônios, colocando veneno na panela, causando grande prejuízo espiritual ao povo do Senhor.
A "Ética dos Pais"(em hebraico, "Pirke Avot"), um dos principais capítulos da literatura de sabedoria do "Talmud", o depósito da chamada "lei oral judaica", inicia-se com a seguinte afirmação: " Moisés recebeu a Torá do Sinai; transmitiu a Josué; Josué, aos anciãos; os anciãos, aos profetas; os profetas a transmitiram aos homens da Grande Assembléia..." (Pirke Avot 1,1).
O que aqui observamos é que, para os judeus, a validade de toda a sua lei está na fidelidade da transmissão, ou seja, desde Moisés, que a recebeu de Deus, até os homens da Grande Assembléia, que são os membros do Sinédrio que compilaram as tradições orais depois da destruição do templo de Jerusalém pelos romanos, havia uma cadeia de fiel transmissão, e esta é a razão pela qual os judeus, mesmo não tendo templo e, até 1948, nem sequer tendo um Estado na Palestina, mantinham a observância da lei, porque havia fiel transmissão.
Se alguém for observar este princípio em nossas igrejas locais, será que poderá dizer que está sendo transmitida a Palavra do Senhor na mesma fidelidade com que o Senhor a transmitiu aos Seus discípulos (cf. Jo.15:15), ou será que temos criado um sem-número de doutrinas e de tradições que têm, inadvertidamente, por falta de nossa vigilância, invadido e se inserido no meio do povo de Deus, anulando até a própria Palavra do Senhor, como acontecia, entre os judeus, no tempo de Jesus ? (cf. Mc.7:1-13).
Na lei civil brasileira, qualquer um que der informação inexata ou incorreta a respeito de um determinado produto, é responsabilizado pela notícia não correspondente à verdade, tendo o consumidor direito a ser ressarcido pelo prejuízo sofrido diante da erronia, diante da chamada "propaganda enganosa"( artigos 6º, IV e 37 do Código de Defesa do Consumidor), podendo, até, o responsável ser processado criminalmente (artigos 66 e 67 do Código de Defesa do Consumidor).
Se os homens, sendo maus e pecadores, punem, desta maneira, quem não for fiel à mensagem veiculada ao público, como podemos pretender sair ilesos se não transmitirmos, fielmente, a mensagem que Deus determinou que divulgássemos, separando-nos para o ministério ?
Que sejamos vigilantes, sabendo que devemos prestar contas de tudo que ensinarmos ao povo de Deus, pois, como afirmou Tiago, "... meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo..." (Tg.3:1).
II.5 - Honesto
A versão do Pe. Antonio Pereira de Figueiredo, a primeira versão em português feita pela Igreja Romana, datada de 1842, traduziu esta característica do obreiro como sendo "concertado", ou seja, compromissado, comprometido, responsável por força de um pacto.
Parece-nos interessante trazer esta outra expressão para demonstrar a amplitude do termo "honesto", que assume uma conotação, nos nossos dias, mais voltada ao aspecto financeiro, visão que não corresponde ao alcance do texto em foco.
Ser honesto é ser comprometido com obrigações e responsabilidades assumidas, é cumprir rigorosamente com o que prometeu, com o que se comprometeu.
O crente, em geral, diz-nos a Palavra de Deus, deve procurar as coisas honestas (Rm.12:17).
Financeiramente, alguém é honesto quando não se enriquece indevidamente, ou seja, quando vende exatamente o que se comprometeu a vender, quando paga ou cobra o justo preço sobre uma determinada coisa.
Para que alguém seja honesto, neste ponto-de-vista financeiro, não pode ter amor ao dinheiro, raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10), devendo ter, assim, desapego às coisas materiais (Mt.6:18-21). Assim, antes de se separar alguém para o ministério, é imperioso que saibamos como é seu comportamento diante do dinheiro.
Pois bem, ser um obreiro honesto não é apenas ser correto com as finanças que, porventura, lhe sejam entregues pela comunidade, pela igreja local em que está exercendo seu ministério, mas é manter vivo o compromisso assumido perante o Senhor de bem desempenhar a função para a qual foi chamado.
Dentro desta perspectiva, não é honesto o obreiro que tem uma visão "carreirista", como dissemos acima, ou seja, que tudo faz, não para bem desempenhar a função para a qual foi separado, mas que procura mostrar-se à liderança da igreja, à cúpula ministerial, com vistas a galgar outras posições mais importantes na estrutura administrativa da organização humana construída em torno da igreja, que é um organismo vivo, propriedade exclusiva do Senhor Jesus.
A honestidade exige do obreiro uma transparência, pois, quem anda honestamente, anda "como de dia", na expressão do apóstolo Paulo aos Romanos (Rm.13:13). Pessoas que sejam refratárias a uma vida de transparência, que tendem, sempre, a esconder algo além da natural intimidade e privacidade que cada ser humano deve ter, não é uma pessoa indicada para o ministério na casa do Senhor, que exige honestidade, honestidade esta que exige, sobretudo, a transparência.
II.6 - Hospitaleiro
Outra qualidade que Paulo apresenta a Timóteo para que seja buscada nos candidatos ao diaconato e ao presbitério é a hospitalidade, qualidade que era fundamental nos tempos apostólicos, ante a total falta de infra-estrutura para a acolhida de irmãos, já que o precário sistema de estalagens e de hospedagens daqueles dias confundiam-se com a prática do meretrício e de toda sorte de prostituição.
Esta característica, nos nossos dias, onde a urbanização excessiva e a violência urbana fazem com que se tenha uma realidade totalmente distinta daquela vivida nos primeiros tempos da igreja, tende a ser negligenciada e até desprezada nas nossas igrejas locais, postura, entretanto, que não pode ser tolerada, se é que cremos que a Palavra de Deus é atemporal e que, portanto, não podem as mudanças sócio-culturais invalidá-la.
Não deixamos de reconhecer que a exigência da hospitalidade, nos nossos dias, não tem o mesmo caráter que tinha nos tempos de Paulo e de Timóteo, mas, também, é inegável que a hospitalidade deve ser uma qualidade presente, notadamente, entre os ministros, a quem cabe, em primeiro lugar, acolher os irmãos e os visitantes em geral nas igrejas locais, algo que, lamentavelmente, tem sido totalmente desvirtuado atualmente.
Ser hospitaleiro é muito mais do que estar disposto a receber alguém para dormir ou tomar uma refeição na sua casa. Ser hospitaleiro é estar disposto a acolher e acolher envolve mais do que suprimento de necessidades físicas ou higiênicas, mas significa poder transformar seu lar e sua pessoa num refúgio para quem está cansado, atribulado, angustiado e aflito.
Ser hospitaleiro é ter condições de ser um verdadeiro "hospital", ou seja, ser alguém que possa amainar a dor, o sofrimento, a doença, a necessidade do próximo.
Um dos modelos maiores de hospitalidade na Bíblia Sagrada é o de Abraão que, no maior calor do dia, acolheu aqueles três viajantes, um dos quais era o próprio Senhor, quando estava à porta da tenda(Gn.18:1-3). Sua disposição e seu pronto socorro àqueles homens revelam que o obreiro deve ser alguém que esteja, à porta da tenda, ou seja, à disposição, para mitigar o sofrimento do próximo.
Muitos obreiros, porém, estão como Sara, que se encontrava dentro da tenda, preso àquele universo interno, totalmente alheia ao que se passava em volta, sem qualquer disposição para saciar a fome e a sede de quem quer que fosse.
Sejamos hospitaleiros, dispostos a realizar a obra do Senhor, que é a de cuidar dos doentes, resolver os problemas dos aflitos e trazer paz aos atribulados.
Recentemente, conversando com um obreiro, o mesmo, que dirige uma congregação numa grande cidade do interior paulista, afirmou que tem conseguido sensibilizar a irmandade no auxílio aos necessitados, ao afirmar que, a partir do momento que a igreja decide evangelizar, certamente encontrará um sem-número de problemas a resolver e se a igreja quer pregar o evangelho, deve estar consciente que também deve estar pronta a ajudar a resolver todo tipo de problemas, pois, no mundo sem Deus e no pecado, não há senão problemas e problemas cada vez maiores.
Como podemos querer pregar o Evangelho se não estamos dispostos a ser hospitaleiros ?
Mas, para que haja hospitalidade, é mister que haja um prévio discernimento. É aqui que se tem um dos pontos fundamentais que permitem o exercício da hospitalidade sem qualquer problema, apesar dos dias maus em que vivemos.
A violência urbana do nosso tempo somente impede o exercício da hospitalidade se não houver o discernimento. Abraão pôde identificar que, entre aqueles viajantes, estava o próprio Deus, tanto que a Ele se dirige e se prostra (Gn.18:3). Não podemos mais agir como a personagem mencionada pelo escritor aos Hebreus (provavelmente Ló), que, sem saber, hospedou anjos (Hb.13:2), pois a probabilidade de estarmos hospedando demônios será muito grande.
Se o candidato ao ministério for hospitaleiro criterioso, teremos a demonstração de que se está diante de alguém que tem o discernimento, que sabe ver o mal de longe e é de pessoas assim que a Igreja precisa para seu crescimento espiritual.
II.7 - Apto para ensinar
Já falamos, ao tratar da vigilância, da importância que tem de ter o conhecimento da Palavra do Senhor na escolha dos ministros na casa de Deus.
É fundamental que o diácono ou presbítero sejam pessoas que tenham condições de ensinar a Palavra de Deus e tem sido este um requisito que tem sido deixado de lado pelas igrejas locais, para grande prejuízo da Igreja do Senhor, em especial no Brasil, onde o vertiginoso crescimento da Igreja tem sido, indevidamente, aliado a um espontaneísmo e a um anti-intelectualismo que se confunde com a ação do Espírito Santo. Não são poucos os que defendem a tese de que o Espírito Santo, para agir, exige um ambiente em que não haja estudo sistemático da Palavra do Senhor, em que tudo se reduza a uma operação de "revelação" do Espírito e de uma espontânea manifestação do Senhor no meio do Seu povo.
Muito pelo contrário do que tem sido pregado e propagandeado aos quatro ventos, o modelo bíblico mostra que Jesus era alguém que sempre ensinava a Palavra do Senhor com base nas Escrituras, nunca apresentando um espontaneísmo ou uma doutrina baseada apenas em Seu sentimento ou pensamento, como também lecionou durante mais de três anos aos Seus discípulos, os quais continuaram a manter uma vida de oração e de aprendizado da Palavra, pois somente quem dela aprende é que pode ensiná-la, a ponto de não permitir sequer que conflitos surgidos na igreja viessem a perturbar seu trabalho (cf. At.6:2-4).
O diácono e o presbítero devem ser pessoas que estejam aptas a ensinar a Palavra do Senhor, mas muitos têm sido separados para o ministério sem atender a este requisito e a conseqüência é que o povo de Deus tem sido deixado à mercê, correndo sério risco de ser destruído, precisamente porque lhe falta o conhecimento. (Os.4:6a).
Para quem alguém esteja apto para ensinar, é preciso, em primeiro lugar, que esteja disposto a aprender. Ser discípulo de Jesus é ser Seu aluno, pois a palavra "discípulo" quer dizer aluno. Jesus disse que os apóstolos deviam "fazer discípulos"(Mt.28:19-ARA e NVI), ou seja, pessoas que quisessem aprender.
Então, o primeiro ponto que devemos observar no candidato a obreiro é se freqüenta as reuniões de ensino da igreja local (culto de oração e doutrina, escola bíblica dominical, seminários, palestras etc.), se está aprendendo.
Em seguida, devemos testá-lo no exercício do ensino da Palavra, dando-lhe oportunidades para que venha a fazer estudos bíblicos, a fazer explanações da Palavra do Senhor.
Somente assim teremos observado se o crente está em condições de ser guindado ao ministério.
É, aliás, outro grande mal que tem causado a "visão carreirista" nas igrejas locais, a total eliminação deste requisito na separação de diáconos, havendo, mesmo, quem ache que, exatamente por não ter condições de ensinar a Palavra, deva alguém ser separado ao diaconato, buscando basear seu entendimento na própria criação do diaconato, em At.6, pois o "diácono era, precisamente, alguém escolhido dentre o povo para permitir que os apóstolos estudassem a Palavra enquanto eles serviriam às mesas."
Entretanto, este entendimento não pode ser, de forma alguma, adotado na igreja do Senhor.
Por primeiro, o diácono, corretamente ou não, no momento aqui não importa, não tem servido como mero auxiliar na igreja local para assuntos materiais, como se decidiu em Jerusalém, de modo que, como o diácono pode assumir funções em nossas igrejas locais do século XXI que, na Jerusalém dos anos 30 seriam exercidas apenas pelos apóstolos, o argumento apresentado não pode, em absoluto, ser acolhido.
Por segundo, ao se verificar quais os requisitos apresentados para a escolha dos primeiros diáconos, observaremos que foram escolhidos "varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria", ou seja, pessoas que não eram, em absoluto, ignorantes quanto à Palavra de Deus, tanto assim que basta olharmos para o discurso que um dos diáconos, Estêvão, proferiu (At.7:2-53), para verificarmos que a idéia de que o diácono pode ser alguém que não tenha condições de ensinar a Palavra seja algo que não tem qualquer respaldo bíblico.
Ser apto para ensinar a Palavra é, assim, requisito indispensável para que alguém possa ser obreiro, mas para ensinar é preciso querer aprender sempre. Não há limite para o aprendizado da Palavra de Deus, de forma que também deve ser observado no obreiro se o seu desejo de aprender sempre perdurará, durante toda a sua vida.
Devemos impedir que os auto-suficientes, os que acham que sabem tudo, os "sabichões" sejam guindados ao ministério. Nosso Senhor, para que não houvesse dúvida alguma de que o conhecimento humano jamais pode querer ser completo ou tal que dispense qualquer aprendizado, deixou-nos dois exemplos cabais de Sua superioridade a todo e qualquer ensinador das Escrituras: aos doze anos, quando foi ao templo pela primeira vez, quando deveria assumir a responsabilidade de conhecer e praticar a lei, segundo o costume judaico, por três dias, ensinou os doutores do Templo, mostrando, assim, ser a eles superior(Lc.2:46,47); ao entrevistar o mestre de Israel, o maior conhecedor da lei em seu tempo, o doutor Nicodemos, o Senhor, expressamente, disse que estava apenas falando de coisas naturais e já o mestre estava perdido, sem entender o que se dizia, imagine se começasse a falar das coisas celestiais (Jo.3:10-12).
O obreiro deve ser alguém apto a ensinar a Palavra de Deus, mas alguém que reconheça que, por mais que saiba, jamais poderá conseguir chegar a uma posição maior do que a de estar aos pés do Senhor(se é que é possível chegar aos Seus pés).
II.8 - Não dado ao vinho
Outra característica que deve ter o candidato ao diaconato ou ao presbitério é o de não ser dado ao vinho, ou seja, não pode ser portador de vício de qualquer espécie.
Parece, até, à primeira vista, que esta exigência do apóstolo é desnecessária, pois, naturalmente, para que alguém seja membro do corpo de Cristo, para que alguém tenha sido batizado em águas, faz-se mister que esteja completamente liberto de qualquer vício.
Assim, como exigir que um obreiro seja pessoa que não seja portadora de qualquer vício, se esta já é uma exigência para se tornar membro do corpo de Cristo ?
Esta aparente contradição, entretanto, inexiste. O apóstolo tinha compreensão de que a vida do crente é uma vida de santificação e que, nem sempre, esta vida é uma seqüência de progressos espirituais. Muitas vezes, há grandes percalços e fracassos na caminhada de fé. Os homens são falhos e, vez por outra, retrocedem espiritualmente, não devendo isto ser uma constante, na vida da pessoa realmente transformada, mas um fato isolado, episódico, que, entretanto, nunca está ausente da vida do cristão.
João, em sua primeira carta universal, é claríssimo ao afirmar que "se dissermos que não pecamos, fazemo-lO mentiroso, e a Sua palavra não está em nós"( I Jo.1:10). Se dissermos que não pecamos mais, que adquirimos a impecabilidade ao aceitarmos a Cristo, estaremos mentindo e, conseqüentemente, estaremos pecando.
Ciente desta condição do ser humano, o apóstolo adverte a seu filho na fé que observe não a história do candidato ao diaconato ou ao presbitério, mas, sim, o seu momento espiritual presente, o atual instante de espiritualidade do candidato a obreiro.
Quando o candidato se batizou em águas, ele dava frutos de arrependimento, ele demonstrava estar liberto de todo e qualquer vício (assim se espera que tenha ocorrido...), mas, e agora, como é a vida do candidato ao ministério ? Tem ele sido um instrumento nas mãos do Senhor, ou tem se deixado dominar por algum vício, seja ele qual for ?
Não basta observar se o candidato ao ministério bebe, fuma, usa drogas, joga ou algo similar, o que é muito improvável que esteja ocorrendo, mas é preciso verificar se algo não lhe tem dominado, se ele não consegue se desvencilhar de certos vícios adquiridos durante a jornada de fé.
Será que o candidato ao ministério não está preso a certas práticas que denotem certos vícios, tais como a avareza, ou o descontrole desmedido no consumo e na ostentação ? Será que não tem demonstrado descontrole em aspectos morais, particularmente de moral sexual, não conseguindo resistir aos apelos da mídia no que respeita a pornografia ou sensualismo ? Será que não tem se tornado um "workaholic", sendo viciado em trabalho, a ponto de ter deixado, em segundo plano, suas relações familiares e, até mesmo, a obra do Senhor ? Será que não tem se prendido a certas práticas, como assistir a certo programa de televisão ou participar de certo evento, que não é pecaminoso em si, mas que leve para o segundo plano tudo o mais, inclusive a adoração ao Senhor ?
"Não dado ao vinho" é, portanto, uma característica muito mais ampla do que, simplesmente, certificar-se se o candidato ao ministério é um alcoólatra. É a necessária verificação se o indivíduo tem cumprido o primeiro mandamento, que é o de amar a Deus sobre todas as coisas e se pode repetir, com sua vida, as próprias palavras do apóstolo, escritas à igreja de Corinto: " todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma." (I Co.6:12).
II.9 - Não espancador
Seguindo na sua relação de qualidades indispensáveis para que alguém seja alçado ao ministério, o apóstolo apresenta uma outra característica que não tem sido muito observada nos nossos dias, máxime em países como o Brasil, de cultura excessivamente machista.
Diz o apóstolo que o obreiro não pode ser "espancador", ou seja, não pode ser uma pessoa violenta, agressiva, que não hesite em ofender a integridade física do seu semelhante.
Nos dias de Paulo, a força bruta, a capacidade de fazer valer a força física, era um atributo importante e ressaltado na sociedade, mormente quando se sabe que se estava diante de um governo que, pela força, dominava praticamente todo o mundo de então. Baseado, como estava, em sua força militar, o Império Romano só poderia, mesmo, criar uma cultura que exaltasse a força física.
Entretanto, na Igreja do Senhor, jamais este atributo foi considerado como relevante. Com efeito, salvo o episódio dos mercadores do templo, em que Jesus voltou-Se contra as atitudes desrespeitosas de quem mercadejava a fé do povo, mas onde não se vê, em absoluto, qualquer agressão a uma pessoa, não vemos o Senhor usar da força física para tomar qualquer atitude em Seu ministério.
Assim, também não podemos querer que pessoas que estejam à frente do povo de Deus, possam valer-se da brutalidade ou da força física para que sua vontade prevaleça. Como afirmou o profeta, a Igreja deve estar consciente que sua prevalência sobre o pecado e o mal não é por força nem por violência, mas pelo Espírito do Senhor (cf. Zc.4:6b).
Deste modo, não pode ser separado para o ministério alguém que recorra freqüentemente à força bruta, à violência, que seja espancador, que baseie sua autoridade na agressão à integridade do semelhante, que, como ele, é imagem e semelhança de Deus.
Tão inadequado e impróprio para o exercício do ministério é este comportamento que Moisés, por se ter apresentado como pessoa agressiva e violenta, teve de se submeter a um período de quarenta anos no deserto, para só, então, após ter se convertido no homem mais manso sobre a terra, ser considerado preparado por Deus para realizar a obra para a qual havia sido escolhido pelo Senhor.
Ser pessoa violenta, agressiva e irascível é característica que impede que alguém seja guindado ao ministério na Igreja do Senhor.
Mas é oportuno aqui observar que não é apenas do ponto-de-vista físico que devamos observar a presença, ou não, desta qualidade no candidato ao ministério.
Impõe-se, também, com redobrada atenção, verificar como é o falar deste candidato, como ele trata o próximo, se atinge, ou não, com suas palavras, a integridade moral e psíquica do semelhante.
Às vezes, embora não se espanque fisicamente, espanca-se impiedosamente com palavras, deixando marcas e cicatrizes profundas, que não saram tão rapidamente como se fossem ferimentos físicos.
Como é o trato do candidato a obreiro com seu semelhante ? Como são suas palavras de repreensão, de indignação, de correção ? Será que são palavras firmes mas doces, cheias de graça ? Ou são ofensivas e verdadeiras chibatadas que deixam marcas difíceis de cicatrização ?
É imperioso que o obreiro seja manso e humilde de coração, assim como é seu Senhor (cf. Mt.11:29b), sendo equilibrado em suas palavras, que não vise ao "linchamento moral" de quem quer que seja, mas que busque, mesmo nas repreensões e correções, a edificação do errado, a cura do doente, a restauração do caído.
Acumulam-se, nos tribunais, demandas contra igrejas por causa de comportamentos de obreiros que foram ofensivos à moral e ao respeito devido a irmãos disciplinados, demandas estas que, via de regra, têm sido julgadas contra a igreja. Antes de observarmos nestes julgamentos uma eventual "perseguição religiosa dissimulada", como alguns precipitados logo passam a propalar, por que não observarmos se tais condenações não são fruto de uma inobservância deste mandamento bíblico de que os obreiros, aqueles que estão à testa da igreja do Senhor, não podem ser espancadores ?
Será que um magistrado que condene a igreja porque, ao ser tomada uma medida de disciplina, em reunião pública, o obreiro não se contente em apenas dizer à igreja que alguém foi disciplinado, mas que passe a fazer considerações ofensivas e impiedosas contra o membro suspenso ou excluído, não estará agindo conforme a Palavra do Senhor, que afirma que o diácono ou presbítero não pode ser espancador ? Será que a caneta do magistrado não está sendo utilizada para que a Palavra de Deus seja cumprida ? (cf. Gl.6:7).
II.10 - Não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado
Aqui, uma vez mais, parece-se estar diante de uma obviedade, porquanto a moderação, também chamada de temperança, domínio próprio ou autodomínio é uma qualidade que deve estar presente em todo servo de Deus, pois é um atributo inerente ao fruto do Espírito (cf. Gl.5:22). Assim, se alguém é salvo, "ipso facto", é moderado, e exigir-se isto de um candidato ao diaconato ou ao presbitério seria, para se utilizar de uma expressão popular, "chover mo molhado".
No entanto, além do aspecto temporal, que já analisamos quando observamos a exigência de o candidato ao ministério ser "não dado ao vinho", que exige, portanto, uma análise do momento presente da vida espiritual do candidato e não apenas de seu histórico, o que dá completo sentido à exigência aqui trazida pelo apóstolo, é importante observar que o obreiro deve ser alguém que tenha equilíbrio, que tenha moderação, não só sob o aspecto individual, mas, também, coletivo.
É preciso observar como o pretendente ao diaconato e ao presbitério tem se comportado em relação à comunidade, se tem sido um extremista, um fundamentalista, alguém que não encontre qualquer objeção em assumir uma atitude radical e desequilibrada.
Uma pessoa desta natureza não pode, em absoluto, ser guindada ao ministério, onde o equilíbrio e a sensatez são fundamentais para que se tenha sucesso e êxito no ministério.
Esta característica deve demonstrar que o candidato ao ministério é uma pessoa que tem condição de se colocar na posição do crente fraco, do crente necessitado, do crente que está errado e, assim, ter compaixão e saber levar em conta todas as circunstâncias que levaram alguém a tomar esta, ou aquela atitude.
A moderação envolve a ponderação, a ausência de pressa na tomada desta, ou daquela decisão, um discernimento espiritual aguçado e que revele o intuito de sempre conseguir a edificação e o aperfeiçoamento dos santos nas suas atitudes.
O equilíbrio, a moderação é algo que tem faltado muito em nossas igrejas locais, sendo qualidade que devemos buscar intensamente junto ao Senhor, Ele próprio um exemplo de equilíbrio, de sensatez e de temperança.
A qualidade aqui é indispensável para o futuro de nossa igreja e quem o diz não somos nós, mas o próprio presidente atual da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, pastor José Wellington Bezerra da Costa que, em janeiro de 2002, foi enfático ao afirmar que, se não houver equilíbrio por parte dos obreiros, as Assembléias de Deus no Brasil correm sério risco de deixar de existir enquanto organização a serviço do reino do Senhor.
A própria física revela-nos que os extremos não são locais que concentrem energia ou que se constituam em depósitos de energia, algo que é realizado pelo centro. Daí porque Salomão ter afirmado que a virtude está no meio (cf. Ec.7:16,17) e ter pedido, mesmo em termos financeiros, que o Senhor lhe desse apenas a porção acostumada de cada dia (Pv.30:8,9), pois é na moderação que se encontra a bênção do Senhor.
II.11 - Não contencioso
O candidato ao diaconato e ao presbitério deve ser uma pessoa que seja pacificadora, que seja conciliadora, inimiga de contendas, ou seja, que não tenha prazer, antes abomine as intrigas, as discussões, as polêmicas, os debates, as lutas, as porfias e as pelejas.
Naturalmente que um servo de Deus sincero e autêntico é alguém que não promove este tipo de conflitos no seio da comunidade, porquanto é alguém que dá o fruto do Espírito e, entre as qualidades de tal fruto está a paz (cf. Gl.5:22), ao mesmo tempo em que se sabe que, entre as obras da carne, estão as inimizades, porfias, pelejas e dissensões (cf. Gl.5:20).
Entretanto, o fato de não ser o promotor deste espécie de conflitos é condição necessária para um servo de Deus, mas insuficiente para alguém que queira estar à frente do povo de Deus ou tendo nele algum destaque.
Para o cristão, basta que esteja em paz com os outros enquanto depender dele esta paz (cf. Rm.12:18), mas, para ser obreiro, é preciso mais do que isto, é preciso ser alguém que vá trazer a paz, que vá promover a paz entre os seus irmãos e entre as pessoas em geral, alguém que tenha o espírito de conciliação e que saiba mediar os conflitos que lhe forem apresentados.
Como, então, poder ser separado para o ministério alguém que, como diz o ditado popular, "paga um boi para não entrar na briga, mas dá uma boiada para não sair dela ? ". como poder ser incluído entre os candidatos ao ministério alguém que tenha prazer nas porfias, que alimente discussões, que goste de polêmicas e de instigar as diferenças e divergências no meio do povo de Deus ?
Um dos grandes problemas que a sociedade atual tem sentido é o aumento de um fenômeno que os juristas têm chamado de "litigiosidade contida", ou seja, a incapacidade de as pessoas conseguirem resolver seus litígios, seus conflitos, seus problemas, o que gera uma insatisfação continuada e deteriora os relacionamentos, que, quase sempre, acabam degenerando ou em manifestações de violência, ou, então, em pedido de intervenção do Estado, cujos órgãos de solução de conflitos encontra-se congestionado e sem condições de dar conta do número cada vez mais crescente de litígios que lhe têm chegado ao conhecimento.
Em termos de igreja, a situação não tem sido diferente, com os irmãos em Cristo tendo, também, inclusive entre si, cada vez mais, de recorrer à Justiça ou a outros organismos de solução de conflitos, numa prova evidente de que nossos obreiros já não têm sido suficientes para a conciliação de interesses e de pretensões, o que é altamente indesejável.
Por que isto tem acontecido ? Exatamente porque não têm surgido ministros e oficiais que sejam inimigos de contenda, que tenham a capacidade de conciliação, de composição dos conflitos.
Jetro já havia aconselhado Moisés a buscar homens capazes de conciliar os conflitos no meio do povo de Israel e esta instituição foi fundamental para que o povo pudesse iniciar sua caminhada para receber a lei no Monte Sinai (cf. Ex.18:14-27). A igreja não pode perder a capacidade de resolver os conflitos que exsurjam entre os justos, pois não podemos permitir que injustos julguem os justos (cf. I Co.6:1-9).
Soubemos, certa feita, de um caso que nos deixou assaz preocupados. Um irmão, em uma determinada congregação, acabou descobrindo que sua mulher estava grávida mas que o filho não era seu, mas, sim, de seu sócio. Completamente transtornado, o rapaz, um crente fiel e muito simples, após ter pensado até em dar cabo da vida da mulher infiel, resolveu ir para a igreja, pois era domingo.
Ao término da reunião, pediu para falar com o dirigente da igreja e lhe contou o acontecido, pedindo que o mesmo fosse, com sua mulher, até a sua casa, para dar uma palavra a ele e à mulher infiel e a lhes orientar no procedimento a seguir. Ao chegar à casa, porém, assim que avistou a mulher do irmão, o obreiro encolerizou-se, passou a proferir palavras duras para a mulher, ao mesmo tempo em que dizia ao marido traído que ele poderia, biblicamente, separar-se da mulher e que tinha todos os direitos e razões do mundo para lançar fora a mulher pecadora. Quando estava no auge de sua ira, o pobre rapaz disse ao obreiro que, se fosse para falar aquilo, ele não teria perdido seu tempo em chamá-lo àquela hora da noite, pois o que ele queria era um conselho de pacificação, uma orientação que viesse a dar tranqüilidade e esclarecimento a mentes que já estavam suficientemente alteradas do ponto-de-vista emocional.
Que tristeza ! Quem deveria trazer a paz e ter a capacidade de conciliar interesses e pretensões, era o primeiro a ser repreendido por estar incitando o conflito e a contenda !
Que possamos ter obreiros que sejam inimigos de contendas.
Outro tipo de pessoa que não pode ter acesso ao ministério é o polemista, o questionador inveterado, o amante de discussões e debates intermináveis.
Diz Paulo a Timóteo, nas suas duas epístolas a seu filho na fé, que o obreiro deve evitar "os falatórios profanos" (II Tm.2:16), rejeitar tanto as "fábulas profanas e de velhas"( I Tm.4:7), "as questões loucas e sem instrução"(II Tm.2:23), pois "ao servo do Senhor não convém contender"(II Tm.2:24).
Não confundamos o polemista e questionador inveterado, que é aquele que gosta de questionamentos pelos questionamentos, que quer apenas a polêmica e a discussão, sem qualquer interesse em aprendizado e em crescimento espiritual, daquele indivíduo que tem sede de aprender a Palavra de Deus, que quer saber, com profundidade, a doutrina da Palavra do Senhor, que quer saber a razão de ser deste ou daquele ensinamento, seu respaldo bíblico, enfim, alguém que queira ser interativo no ensinamento da sã doutrina.
Este deve ser um candidato ao ministério, sim, pois se trata de alguém que almeja ser "aprovado, que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade "( II Tm.2:15).
Lamentavelmente, os irmãos deste naipe, questionadores e que querem ser bons manejadores da palavra da verdade, são mantidos à parte nas igrejas locais, não são bem vistos pelos obreiros já existentes, principalmente por aqueles que não querem ser estudiosos da Palavra de Deus, porquanto este tipo de gente os obriga a estudar a Palavra para poder responder aos questionamentos.
Entretanto, aqui estamos a tratar de outro tipo de irmão, do questionador que não tem interesse algum em aprender mas, apenas, de desmoralizar o ensinador, de causar polêmica e debate, enfim, seu intento não é de aprender, de crescer, mas de mostrar uma suposta erudição sua ou de destruir a própria autoridade de quem está encarregado de ensinar a Palavra.
Estes devem ser mantidos afastados do ministério, bem assim devem ser, educada e sabiamente, anulados pelos obreiros, pois trarão conseqüências funestas no progresso espiritual da igreja, que não pode prescindir do ensino da Palavra do Senhor, como, aliás, já dissemos supra.
II.12 - Não neófito
Prosseguindo em sua relação de requisitos para a escolha de diáconos e presbíteros, Paulo afirma que os candidatos devem ser pessoas que não sejam neófitas, para que, ensoberbecendo-se, não caiam na condenação do diabo (II Tm.3:6).
Ser neófito é ser iniciante na fé, é ser um novato, uma pessoa que está dando os seus primeiros passos na vida espiritual.
A Bíblia afirma que "…se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo…" (II Co.5:17), bem como que é preciso nascer de novo para se entrar no reino dos céus (Jo.3:5-7).
Se assim é o ingresso no reino de Deus, verifica-se que a vida espiritual possui a mesma linha evolutiva da vida material, ou seja, após o novo nascimento, o crente será um recém-nascido, passará a infância, a adolescência, para, então, só depois atingir a maturidade espiritual.
Daí porque Paulo ter afirmado, aos coríntios, que eles eram, ainda, meninos em Cristo (I Co.3:1), ou ter o escritor aos Hebreus afirmado que seus leitores ainda necessitavam de um alimento correspondente à sua infância espiritual (Hb.5:12,13).
Aliás, nesta passagem, o escritor aos Hebreus demonstra que não é o tempo que define a maturidade espiritual, mas o crescimento espiritual decorre de uma vida cada vez mais íntima em relação a Deus.
Por isso, o obreiro não pode ser uma pessoa que não tenha maturidade espiritual, pois, não tendo ainda uma experiência madura com o Senhor, facilmente, por causa de sua posição, será enganado pelo adversário de nossas almas e, inevitavelmente, será tomado pela soberba, que foi o pecado que levou o querubim ungido (cf. Is.14:13-15; Ez.28:2-10) e nossos primeiros pais (Gn.3:5,6) à perdição.
Uma pessoa precisa ter adquirido maturidade espiritual para ser guindado até o ministério e a maturidade espiritual evidencia-se por uma vida que demonstre total dependência do Senhor, que produza não só frutos para arrependimento, mas um crescimento espiritual contínuo.
Não se deve, portanto, confundir maturidade espiritual com idade ou com tempo de conversão, pois, como vimos supra, o escritor aos Hebreus chama de meninos crentes que, pelo tempo, já deviam ser considerados maduros na fé, mas não o eram.
Não deve haver, portanto, preconceito com relação aos jovens, muitas vezes deixados de lado na separação ao ministério, sob o argumento de que são neófitos, o que é um verdadeiro contra-senso, até porque o próprio Timóteo era um jovem quando foi separado para o ministério (cf. I Tm.2:22). O que se deve avaliar é a maturidade espiritual do candidato, não sua idade, nem seu tempo de conversão.
Neste ponto, vemos como é evidentemente bíblico e correto o procedimento adotado pelas Assembléias de Deus de somente separar obreiros que já tenham sido revestidos do poder do Espírito Santo, pois este é o ponto primeiro para que alguém possa ser considerado maduro espiritualmente, pois foi o requisito imposto pelo próprio Senhor para que Seus discípulos pudessem iniciar a obra de evangelização (cf. Lc.24:49).
II.13 - Não avarento
Outra característica importantíssima para o diácono ou presbítero é que não seja avarento, ou seja, que não tenha o "amor do dinheiro, (que) é a raiz de toda a espécie de males "( I Tm.6:10).
Com efeito, se o candidato ao ministério tiver seu coração nas coisas materiais, for avarento, será um sério candidato a se tornar um falso mestre, que faça do povo de Deus mercadoria e negócio (cfe. II Pe.2:1-3).
Hoje em dia, já não são poucos os lugares em que a aptidão para o ministério é calculada em termos de capacidade de arrecadação, em que a carreira ministerial é medida pelo volume de recursos que se consegue angariar junto ao povo do Senhor.
Buscam-se mercenários, empresários, comerciantes e não mais homens de Deus !
Mas a Bíblia é clara ao afirmar que a condenação desta gente não demorará e que, no tempo oportuno, aqueles que transformaram o povo de Deus em mercadoria, que reduzem a igreja do Senhor a um "mercado' ou "segmento de mercado", receberão do Senhor a paga pela sua conduta abominável.
Na igreja, devemos ter pessoas desprendidas das coisas materiais, pessoas que não estejam preocupadas em fazer do ministério um meio de vida, em ter no ministério uma renda ou uma fonte de sobrevivência.
Não somos contrários à existência de obreiros que vivam da obra do Senhor, pois a Bíblia permite que haja este tipo de obreiro, cujo salário é digno, mas somos contra os mercenários da fé, aqueles que querem servir para ganhar dinheiro.
A Bíblia diz que o obreiro é digno do seu salário, ou seja, que haverá aqueles que, por terem sido chamados para uma dedicação exclusiva, mereçam receber uma remuneração por isto, mas jamais chancela os interesseiros, aqueles que querem ser chamados a servir, não para servir, mas para receber um salário.
É preciso verificar qual o intento, qual o interesse que está por detrás do "desejo do episcopado" e se for verificada a avareza, o amor do dinheiro, isto representará um sonoro e bem alto "não". A igreja precisa de obreiros, não de mercenários !
II.14 - Tenha bom testemunho dos que estão de fora
Outra característica que Paulo inclui entre os requisitos indispensáveis para um candidato ao ministério é que este tenha bom testemunho dos que estão de fora, ou seja, que sejam bem vistos na comunidade, mas também fora da comunidade.
É preciso, portanto, que o candidato a ministro não seja, apenas, alguém que seja bem visto nas quatro paredes do templo, alguém que se destaque como pessoa de grande espiritualidade, digna e honesta durante os cultos ou as demais reuniões e atividades da igreja local, mas, muito mais do que isto, que seja uma pessoa que tenha um bom conceito, uma boa reputação entre os incrédulos, entre os ímpios, entre os que não aceitam a Cristo como Senhor e Salvador.
Muitos têm desprezado esta circunstância, que tem trazido enorme prejuízo para a divulgação do Evangelho, pois têm sido separados obreiros que têm mau (para não dizer péssimo) conceito no meio social onde vivem.
O obreiro deve ser uma pessoa bem conceituada porque tem de transmitir, pelo seu porte, credibilidade às suas palavras, pessoa cujo falar seja considerado crível e respeitável entre os incrédulos que, afinal de contas, serão o principal alvo das pregações e das declarações que forem feitas pelo ministro no seu cotidiano como anunciador destacado do Evangelho de Jesus Cristo.
O cristão, diz o próprio Jesus, deve ser luz do mundo e sal da terra e suas boas ações devem ser capazes de fazer os homens glorificar a Deus que está nos céus (cf. Mt.5:13-16). Ora, o obreiro, que estará em destaque perante a sociedade, dentro os integrantes da igreja local, com muito maior razão, deve ser uma pessoa irrepreensível, inatacável do ponto-de-vista social.
Assim, deve o obreiro demonstrar que é uma pessoa que cumpre seus deveres cívicos, que esteja em dias com as suas obrigações civis, que seja um correto patrão ou empregado, que não esteja lesando o próximo (inclusive o Governo, sendo um correto contribuinte), que não esteja sendo investigado pela polícia ou pela justiça, que seja um bom vizinho, um bom pai, um bom filho, enfim, que seja um "homem de bem" na sociedade em que vive.
Não podemos admitir uma postura que tem buscado dividir a vida espiritual da vida material de alguém. É impossível alguém que esteja em comunhão com Cristo, ter uma vida material desregrada, confusa e problemática. Jesus afirmou que pelos frutos conheceríamos o interior, a espiritualidade de alguém (Mt.7:16-20), de modo que, se alguém não pode receber um bom testemunho dos que estão de fora, dos que não vivem de acordo com os preceitos divinos, não está em condições de ser separado para o ministério na igreja do Senhor.
Há quem entenda que isto seria submeter ao julgamento dos ímpios ao próprio merecimento dos justos, mas, em primeiro lugar, trata-se de um requisito bíblico, que não comporta, portanto, questionamento. Em segundo lugar, porém, vemos que o mandamento bíblico é de grande sabedoria, porquanto o testemunho dos que estão de fora é um testemunho que deve ser levado em conta, pois permite descobrir os casos de dissimulação e de hipocrisia, que, e Cristo foi realista, é um dos comportamentos mais encontradiços entre os religiosos.
Naturalmente que, na análise do conceito que o candidato a ministro tenha na sociedade, não haveremos de considerar os preconceitos e antipatias surgidos pela sua fidelidade ao Evangelho, pois sabemos que o mundo tem seu curso contrário ao do sincero e fiel servo do Senhor. É por isso que a Bíblia afirma que se alguém padece por ser cristão, deve glorificar a Deus.
Assim, se alguém está sendo, v.g., processado por causa de seu testemunho perante Cristo, isto deve ser um fator a inseri-lo no ministério e não o contrário. Uma perseguição por causa do Evangelho não é um mau testemunho, mas um bom testemunho dos que estão de fora, ainda que representado por atitudes e ações maléficas contra o candidato ao ministério (cf. Mt.5:11,12; I Pe.4:1-19).
Por falta de atendimento a este requisito é que se tem aberto enorme brecha ao adversário de nossas almas, pois é através de más condutas sociais de muitos obreiros precipitadamente separados que o inimigo tem procurado lançar o descrédito na pregação do Evangelho e criado os inúmeros escândalos que tanto prejuízo tem causado à obra do Senhor.
Que somente sejam separados obreiros que tenham bom testemunho dos que estão de fora, para que o nome do Senhor seja glorificado !
III. AS CARACTERÍSTICAS DE UM BOM SERVIÇO NO DIACONATO E NO PRESBITÉRIO
Além de ter elencado os requisitos para que alguém seja guindado para o ministério (diaconato ou presbitério), o apóstolo Paulo também apresentou a seu filho na fé, Timóteo, algumas características que devem estar presentes no exercício do ministério dos separados, preocupação que revela a necessidade de se estar verificando o exercício, o desenvolvimento cotidiano do ministério, a fim de que se possa observar o desempenho do obreiro, inclusive com vistas à entrega de maiores responsabilidades no futuro, sem a perspectiva, entretanto, de "carreira eclesiástica".
Não pretendia o apóstolo que Timóteo apenas observasse os irmãos para separá-los ao ministério, mas, bem ao contrário, o que deveriam eles fazer uma vez já no ministério, numa clara demonstração de que a igreja é dinâmica, não comporta acomodação, na sua incessante e contínua luta para salvação das almas e aperfeiçoamento dos santos.
Em primeiro lugar, é dito que os diáconos (e, por extensão, todos os obreiros) devem "guardar o mistério da fé em uma pura consciência" (I Tm.3:9), ou, noutras versões, "conservar o mistério da fé com a consciência limpa" (ARA) ou "apegar-se ao mistério da fé com a consciência limpa"(NVI).
O que se observa, portanto, é que o obreiro não deve manter uma vida íntegra e sincera até ser separado para o ministério, mas que, a partir da separação, conservem, mantenham, apeguem-se ao mistério da fé, ou seja, ajam sempre dentro de uma perspectiva de fé em Cristo, que suas atitudes revelem uma profunda direção do Espírito Santo.
E devem fazê-lo tendo a consciência pura, tendo a consciência limpa, ou seja, mantendo-se fiéis e leais ao Evangelho e à Palavra de Deus.
Os maus obreiros, os chamados "falsos mestres", têm como característica a busca da satisfação dos próprios interesses, construindo doutrinas e ensinamentos que lhes convenham, que lhes tragam vantagens e oportunidades.
O sincero e autêntico obreiro na igreja do Senhor é alguém que se mantém por fé, que guarda e conserva o mistério da fé, que tem em vista não seus próprios interesses, mas os do dono da obra e que, por isso, tem uma consciência limpa e pura diante de Deus.
Para se ter uma consciência pura, é necessário que o sangue de Cristo tenha purificado e esteja, sempre purificando, o obreiro (cf. Hb.9:14), algo que somente se torna possível se o obreiro estiver andando na luz, em plena comunhão com o Senhor( cf. I Jo.1:7). Aliás, quem tem esta consciência, purifica-se a si mesmo ( I Jo.3:3).Foi esta consciência sem ofensa perante Deus e perante os homens que Paulo pôde apresentar aos fariseus, quando foi preso em Jerusalém (At.24:16).
Tem-se uma consciência pura quando se está vivendo uma vida de verdade e de sinceridade diante de Deus, pois a mentira e a hipocrisia são venenos cujo poder é o de cauterizar a própria consciência, transformando o obreiro em um obreiro fraudulento e sem qualquer temor de Deus (cf. I Tm.4:2).
Somente quem tem uma consciência pura, poderá apresentar um bom porte de Cristo, porte que confundirá os que falarem mal do obreiro por causa de seu modo de viver, contribuindo, assim, para o aumento da credibilidade da pregação do Evangelho (cfe. I Pe.3:16).
O obreiro deve preocupar-se intensamente em uma vida de contínua santificação. Sua oração deve ser, continuamente, a do salmista: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno."(Sl.139:23,24).
Um outro aspecto deste primeiro requisito de bom serviço está na perseverança que deve apresentar o obreiro. Como crente, é preciso que o obreiro persevere, pois somente quem perseverar será salvo (cf. Mt.24:13). Entretanto, quando se trata de um obreiro, a falta de perseverança traz conseqüências ainda mais drásticas, como se verifica em II Pe.2:1,21,22. Conservemos, pois, a fé no Senhor até o fim!
O segundo ponto de um bom serviço é a correspondência da aquisição da boa posição com a aquisição de muita confiança na fé que há em Cristo Jesus (I Tm.3:13).
Assim, aquele que for separado ao ministério, ao invés de apresentar um ar de superioridade, um prazer pelo mando e pelo poder, deve demonstrar, no dia-a-dia, um crescimento espiritual, um acréscimo na fé, uma maior humildade e dependência do Senhor.
Somente estará apresentando um bom serviço o obreiro que mostrar que está confiando mais no Senhor, que está tendo uma vida de maior santidade e dependência de Deus. Não é o número de almas convertidas, o montante de dízimos e de ofertas, o aumento de pessoas batizadas que deverão constar da apreciação do obreiro, mas a sua própria vida espiritual. É verdade que estes dados refletem, são evidências de um crescimento espiritual, mas é preciso verificar se o crescimento espiritual tem sido do obreiro e da igreja local ou só dos demais integrantes da igreja local.
Como tem sido o crescimento espiritual do obreiro ? Tem ele aumentado sua confiança em Deus ? Tem a aquisição de sua boa posição sido correspondida com uma aquisição de uma vida mais santa e dependente do Senhor ?
Deve o obreiro relembrar as palavras do escritor aos Hebreus, tendo consciência de que a confiança em Deus apresenta um galardão incomparável e que deve o obreiro ter paciência e aguardar o cumprimento das promessas do Senhor na sua vida, pois o justo vive da fé (Hb.10:35-39).
Entretanto, para que se possa ter esta confiança em Deus, é necessário que ele esteja com seu coração "purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa"(cf. Hb.10:22b). Só assim poderá reter firme a confissão da nossa esperança e poder estimular os demais irmãos a fazer o mesmo.
O terceiro ponto que deve ser observado no desempenho do obreiro é que ele jamais deve se esquecer de que a igreja é a coluna e firmeza da verdade (I Tm.3:15).
Esta figura da igreja é sempre mencionada em todos os estudos a respeito de eclesiologia, mas muitos se esquecem do contexto em que foi ela foi apresentada.
Paulo diz ter elencado todos os requisitos para o ministro na casa do Senhor para que Timóteo soubesse como convinha nadar na igreja, que é a coluna e firmeza da verdade.
Quando o obreiro tem consciência de que a igreja é a igreja do Deus vivo, porta-se com temor e tremor diante do povo de Deus, pois tem a noção de que o Deus da igreja é um Deus vivo, que tudo vê, que tudo sabe e que protege e cuida dos Seus e que não tolerará que toquem na menina dos Seus olhos (cf. Zc.2:8).
Quando o obreiro tem consciência de que a igreja é a coluna e a firmeza da verdade, sabe que não pode mentir para o povo de Deus, nem viver uma vida de aparência, de hipocrisia e de engano, pois "nada há que encoberto que não haja de ser manifesto, e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto" (Mc.4:22).
Quando o obreiro tem consciência de que a igreja é a coluna e a firmeza da verdade, sabe que não pode deixar de pregar o genuíno Evangelho, de ensinar a sã doutrina, pois somente a palavra do Senhor é aceita pela igreja, pois somente ela é a verdade (Jo.17:17).
Por fim, Paulo afirma que o obreiro tem de seguir, em sua trajetória, o próprio exemplo do Senhor Jesus, que é o obreiro por excelência, o protótipo de todo o ministro na casa do Senhor (I Tm.3:16).
Assim como Jesus Se manifestou em carne, entrando no mundo declarando que iria fazer a vontade de Deus (cf. Hb.10:5-7), o obreiro deve ter consciência de que é um ser humano(Sl.9:20) e, portanto, sujeito às mesmas paixões de todos os homens(Tg.5:17), não podendo, pois, exigir dos demais irmãos um comportamento sobre-humano, nem tampouco se achar um super-homem, devendo ter o firme propósito de sempre fazer a vontade de Deus em seu ministério.
Como Jesus foi justificado em espírito, o obreiro deve ser alguém que tenha, efetivamente, nascido de novo, sido justificado pela fé e ter se estabelecido como um pessoa que está em paz com Deus (Rm.5:1), pois, se não for uma pessoa convertida, de modo algum poderá servir a Deus, pois não se pode servir a dois senhores, nem ter uma vida com Deus e com o pecado simultaneamente.
Do mesmo modo que Jesus foi visto dos anjos, o obreiro deve ser alguém que seja observado pela igreja do Senhor, que seja por ela auxiliado e aprovado, o que somente se fará se o obreiro tiver um porte digno e demonstrar verdadeiro amor pela igreja.
Da mesma maneira que Jesus foi pregado aos gentios, o obreiro deve ser, constantemente, observado pelo mundo sem Deus e sem salvação, devendo, entretanto, neles inspirar uma glorificação a Deus, mesmo naquilo em que o criticarem ou dele falarem mal. O obreiro deve ter um porte, uma conduta social que impeça qualquer repreensão ou redução da credibilidade na pregação do Evangelho. Deve ser alguém que, mesmo que condenado pelos homens, seja apresentado como alguém onde não se vê culpa (cf. Mt.27:24; Lc.23:22).
Jesus foi crido no mundo e o obreiro deve, também, ter uma credibilidade perante a sociedade, deve demonstrar uma autoridade diante da igreja e dos homens, autoridade esta que resultará de uma vida de santidade e de comunhão com o Senhor. Não deve o obreiro ser como os escribas, que ensinavam a Palavra mas não a viviam, pois o povo sabe muito bem discernir entre quem tem autoridade e quem não tem (cf. Mt.7:28,29).
Se assim agir o obreiro em sua vida ministerial, certamente, assim como Jesus foi recebido acima na glória, certamente será honrado e reconhecido pelos homens, pela igreja como um santo homem de Deus e, na vinda do Senhor, terá o seu merecido galardão, pois Deus é galardoador dos que O buscam (cf. Hb.11:6 "in fine").